terça-feira, 10 de maio de 2011

Viva Cauby!!!!

Escrito  em  Setembro de 2005

Assistir Cauby no Bar Brahma é uma experiência única. Tudo começa com imensa cafonice e tristeza, chegamos a esquina da Ipiranga com São João,outrora puro glamour,hoje decrépita. Mendigos defecam no meio da rua, travestis siliconados se dirigem aos seus pontos,tudo isso contrastando com a classe média que chega ao bar saltando de Voyages e Caravans Diplomata, velhas de mocotó grosso trajando vestidos de festa rubros com broches de borboleta dourados ao peito,sapatos prata,meias grossas prevenindo a ruptura de imensas varizes cor de orquídea,senhores de ternos da Garbo com perucas acaju gritam com as mulheres em linda impaciência conjugal,o cheiro de perfume velado domina o local. Somos conduzidos ao nosso lugar num canto próximo ao palco, na mesa ao lado o sofista DiGênio (xodó do Militar)pede uma picanha no "rechaud" (nova mania da classe média,como os rondellis em buffets baratos de casamento,como as tábuas de frios de outros tempos), a carne chega espalhafatosa,despejando no ambiente fechado uma densa fumaça gordurosa que impreguina os cabelos fofos de bolo das velhas de reluzentes dentaduras de égua,a impressão geral é a de um crematório. Um senhor de aproximadamente duzentos e trinta anos começa a tossir desesperadamente atrás de mim,sinto perdigotos geriátricos atingirem minha nuca, meu chope espuma como se atingido por chuva,peço outro e desejo sinceramente que o ancião morra em agônica apinéia,o tempo passa e nada do cantor "Ronald Mcdonald" chegar.Boatos correm a boca pequena,o homem anda mal de saúde dizem uns,outros reclamam,será que esse porra vai morrer logo hoje que nos deslocamos da Mooca até aqui?
De repente o bar para,todos se levantam e então surge Cauby,trajando um blazer de lantejoulas douradas,os aplausos ecoam desvairados,alguma louca grita chamando o "curinga" de lindo e então,sobre o palco a magia acontece.
Cauby é visualmente uma mistura de Little Richard com Tom Jones, a voz evoca os grandes crooners do passado,Bing Crosby,Sinatra,Bennet e claro Tom Jones, o repertório é pop da melhor qualidade, indo dos clássicos próprios como Camarim e Conceição até lendas do boa cafonice internacional como I Just Called To Say I Love You e She de Charles Aznavour.Durante o show o ambiente macabro entra em pausa, a música domina o terror anterior, como um flautista de Hamelin Peixoto conduz a todos para um passado de beleza e amor,onde as velhas ainda não possuíam as doloridas joanetes,onde os paus dos velhos subiam em direção aos céus da excitação sexual. Cauby encerra o show cantando My Way, sim o velho Cauby Peixoto fez tudo a sua maneira, se vestiu como um clown efeminado,estourou nos Estados Unidos e acabou terminando a sua carreira num bar na porta da boca do lixo,porém todos o aplaudem de pé,alguns choram,todos ali o amam,inclusive eu.Yes,he did it in his way.

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