sexta-feira, 12 de agosto de 2011

Uma segunda-feira qualquer em 1994.

Era uma daquelas manhãs de março em que o verão parecia que nunca mais iria terminar. Saltei do ônibus no Paraíso e desci a Rua Abílio Soares temeroso, uma mochila com algumas camisetas, cuecas e livros era o que eu levava como companhia. Estávamos em uma época em que os celulares, a Internet e os Ipads ainda não eram itens de primeira necessidade, a comunicação  era mais lenta,  porém mais humana.Era o verão de nossa desesperança.
    Ao me aproximar do número 1130 da referida via senti um clima de tensão no ar, sargentos berravam no meio da rua para que os conscritos andassem rápido, um desses graduados era o Sargento Juliandro (dizem as más línguas que alguns gorilas de Sumatra são mais articulados   do  que ele).  E finalmente entrei naquela edificação que seria meu inferno particular pelos próximos nove meses.
    Como foram difíceis aqueles primeiros momentos, a semana inicial do meu pelotão se deu em regime de internato, fui lotado no Pelotão de Segurança, logo eu, um nerd que na ocasião não conhecia patavinas de artes marciais, somente depois de dar baixa fui me interessar pelo assunto, treinei boxe no CMTC Clube, Jiu-Jítsu no Lótus Clube de Santana (cheguei a faixa roxa) e Krav-Magá com o mestre israelense Avigdor Zalmon. Eu era a mascote intelectual, que falava inglês, daquela turma de cascas-grossas, o chamado PELSEG era composto por lutadores, até mesmo o irmão Pelotão de Investigações Criminais-PIC (formado por pessoas um pouco mais esclarecidas, desenhistas, fotógrafos, datilógrafos) considerava o pessoal do PELSEG um bando de selvagens, mas foi no Pelotão de Segurança que conheci indivíduos que fugiam totalmente dos estereótipos, tinha lá o Santos, um lutador de Chute-Boxe profissional, que chorava liricamente em serviços intermináveis pensando na namorada e na família. Outro cara contraditório em termos era o Sioufi, um ex-skinhead  com a   alma gentil de uma cambaxirra.
E tivemos que aturar gente do naipe de um certo cabo, um gordote ressentido que  queria rasgar todo mundo,mas no fundo  tinha uma certa meiguice, tinha lá o Tenente Martuscelli que posava  de  Rambo mas era somente um moleque seis anos  mais velho que  nós.Nos  deparamos  também com caras maravilhosos como  os sargentos Amorin e Jary que eram verdadeiros amigos.
Pois bem, olhando hoje foi um tempo difícil, mas mesmo  os piores sargentos,cabos e  oficiais parecem serem legais  de certa forma, foi um tempo em que sofremos   muito, mas   na  nossa  memória esse  sofrimento teve  um    certo  sabor de    alegria.Talvez tudo isso se deu  por   um só   motivo:éramos jovens.

segunda-feira, 11 de julho de 2011

Nossos heróis...

Rever Indiana Jones na TV é  realmente incomparável. Indiana Jones e o Reino da Caveira de Cristal é um filme do arqueólogo com todos os ingredientes daquelas tardes em que nos embrenhavamos em salas escuras, tudo o que vimos nos outros Jones esta lá, desde o logotipo da Paramount que se transforma em uma imagem, passando pelos seres rastejantes e peçonhentos ( a sequência das formigas selvagens é antológica), pelas locações exóticas e improváveis, as catacumbas cheias de passagens secretas, os vilões caricatíssimos e a ação desenfreada. Assistir a Caveira de Cristal é como reler um velho gibi, tudo recauchutado, tudo nos remetendo a uma sala de cinema segura onde as surpresas são controladas, os sustos são surpreendentemente previsíveis e o gosto por rever o passado é insuperável. Nos sentimos como crianças que assistem inúmeras vezes o mesmo desenho em busca de conforto, em busca de nostalgia e é exatamente a nostalgia que transborda de  Indiana, o útimo filme ambientado na década de cinquenta remete mais aos filmes B de science fiction do que aos seriados da década de quarenta que seus três antecessores homenageavam, a vilã de Cate Blanchett é uma espécie de Rosa Klebb, a agente soviética inimiga de James Bond em Moscou Contra 007, repaginada, e  é claro bem mais sexy. Vale a pena citar uma cena emblemática em que nossos heróis afundam num poço de areia movediça trash, daquelas em que os personagens emergem com as roupas secas, nada mais Ed Wood.
Triste e melancólico mesmo são as ausências de Denholm Elliot (morto em 1992)e Sean Connery, ambas justificadas e homenageadas porém insubstituíveis. O final, deixa o campo aberto para mais algumas sequências com alguns novos elementos.Torçamos para que Spielberg e Lucas façam uma segunda trilogia de Indiana Jones, assim como fizeram com Star Wars.

quinta-feira, 7 de julho de 2011

A Vida Marinha de Steve Zissou

Quem olha assim não da nada,porém o filme de Wes Anderson é uma lição de tudo o que procuramos numa pelicula, existe ali humor,fantasia,atuação,humanismo e emoção em doses exatas que nunca superam os limites do exagero,do bom senso e da estética. Steve Zissou (Bill Murray excelente as usual)é um oceanógrafo (tipo Cousteau)que busca o mitíco tubarão tigre que devorou um velho companheiro,para buscar tal criatura o marujo conta com a ajuda de uma equipe de tipos únicos (é impagável o papel de Willem Dafoe um alemão extremamente emotivo) e com a presença de um filho a muito rejeitado.
Wes Anderson mais uma vez trabalha com o assunto recorrente em suas obras, o da paternidade, seus personagens apesar de risiveís são dotados de uma humanidade incrível,todas as relações são permeadas por aspectos psicanaliticos latentes,o grande objetivo da expedição,simbolizada pelo tubarão-tigre,é na verdade,como já foi em Hemingway em seu O Velho e o Mar, um encontro com a morte e o que isso significa para a vida. Único,lindo,comovente.

segunda-feira, 30 de maio de 2011

There will never be another Dino...

Me acompanha nessa tarde morta um homem,me acompanha no fígado,na alma,no corpo baleado e fora de padrão,ele,o único e incomparável Dean Martin.
Não sei porque algumas pessoas,muitas delas já mortas e que nós nunca conhecemos,nos acompanham o dia todo,do alvorecer até a madrugada,hoje foi a vez dele ficar no meu ombro como um papagaio de pirata,velho Dino,o boêmio,o de alma charmosa e livre do Rat Pack,digam o que quiserem,ele era o melhor,ele era cool,na dele,charmoso como um felino .Ele era uma espécie de consciência entre aqueles bebuns do pacote de ratos,um tipo de aviso,tudo esta bem hoje,tudo tá tranquilo,mas a tragédia tá logo ali ó,uma mulher que vai te largar,um filho que vai morrer numa montanha maldita,não importa o quanto de grana,fama,pau na mesa você tenha fio,o destino,a vida,essa porra tá aí pra te puxar o tapete,se foder é inevitável,nego.
Dean Martin foi um rei,um regente que nunca perdeu o jeito de rir de sí mesmo,se fingia de briaco,entornava muito menos do que fez os outros crerem,brigou com o panaca esquizofrênico do Jery Lewis,ficou amigo do Sammy e do Frank,sacaneou e foi sacaneado,porém nunca perdeu aquela aura principesca,aquele flanar chic que só alguns escolhidos puderam e poderão ter,obrigado Dago(era assim que era chamado pelos rapazes)dedico a você esta humilde carta.

sexta-feira, 27 de maio de 2011

Nelson Rodrigues Onírico

Tive um sonho esotérico e profético.Estava num desses botequins totais com paredes de azulejo azul e torresmos hippies nas vitrinas.Tomava o cafézinho do tipo coador em copo americano tradicional,estou com as costas voltadas para a rua quando o caixa grita em solene e felicissímo êxtase:Olha o óbvio ululante aí gente!- e entra no bar Nelson Rodrigues.
Apesar de saber que Nelson não era mais do nosso mundo fui só compreensão, estava ali o ídolo dos ídolos, o velinho de paletó gasto, andando com certa dificuldade, bate no balcão e pede altivamente:Manda aí uma água, de preferência Lindóia que é água da bica!
Como um Eduardo Santanna espiríta eu não me contenho e ataco vorazmente a celebridade do além:Nelson o que faz entre os vivos nessa manhã de sabádo? Me responde o "flor de obsessão": Mortos são vocês rapaz! O mundo é um armazém de secos e molhados e a morte é o despertar do sonho dos vivos, quandos sonhamos meu caro estamos na verdade olhando o mundo dos mortos pela fechadura, assim como eu sempre vi a nudez e o sexo, como menino perene que é todo homem,além disso hoje é sábado e como diria o jardineiro da minha infância,o sábado é uma ilusão!
Decido então usar Nelson como um oráculo de Delfos do Leme: Nelson, me diga aí o futuro politíco do Brasil?-me responde o grande:O fato de eu estar morto não me faz um vidente meu caro,mas como sempre disse em vida, para ser gênio basta enxergar o óbvio!!! E avisa o Eduardo Santanna para deixar de ser transviado...-nesse momento acordo em sobressalto, ao meu lado uma revista Veja com Palocci na capa.

terça-feira, 10 de maio de 2011

Viva Cauby!!!!

Escrito  em  Setembro de 2005

Assistir Cauby no Bar Brahma é uma experiência única. Tudo começa com imensa cafonice e tristeza, chegamos a esquina da Ipiranga com São João,outrora puro glamour,hoje decrépita. Mendigos defecam no meio da rua, travestis siliconados se dirigem aos seus pontos,tudo isso contrastando com a classe média que chega ao bar saltando de Voyages e Caravans Diplomata, velhas de mocotó grosso trajando vestidos de festa rubros com broches de borboleta dourados ao peito,sapatos prata,meias grossas prevenindo a ruptura de imensas varizes cor de orquídea,senhores de ternos da Garbo com perucas acaju gritam com as mulheres em linda impaciência conjugal,o cheiro de perfume velado domina o local. Somos conduzidos ao nosso lugar num canto próximo ao palco, na mesa ao lado o sofista DiGênio (xodó do Militar)pede uma picanha no "rechaud" (nova mania da classe média,como os rondellis em buffets baratos de casamento,como as tábuas de frios de outros tempos), a carne chega espalhafatosa,despejando no ambiente fechado uma densa fumaça gordurosa que impreguina os cabelos fofos de bolo das velhas de reluzentes dentaduras de égua,a impressão geral é a de um crematório. Um senhor de aproximadamente duzentos e trinta anos começa a tossir desesperadamente atrás de mim,sinto perdigotos geriátricos atingirem minha nuca, meu chope espuma como se atingido por chuva,peço outro e desejo sinceramente que o ancião morra em agônica apinéia,o tempo passa e nada do cantor "Ronald Mcdonald" chegar.Boatos correm a boca pequena,o homem anda mal de saúde dizem uns,outros reclamam,será que esse porra vai morrer logo hoje que nos deslocamos da Mooca até aqui?
De repente o bar para,todos se levantam e então surge Cauby,trajando um blazer de lantejoulas douradas,os aplausos ecoam desvairados,alguma louca grita chamando o "curinga" de lindo e então,sobre o palco a magia acontece.
Cauby é visualmente uma mistura de Little Richard com Tom Jones, a voz evoca os grandes crooners do passado,Bing Crosby,Sinatra,Bennet e claro Tom Jones, o repertório é pop da melhor qualidade, indo dos clássicos próprios como Camarim e Conceição até lendas do boa cafonice internacional como I Just Called To Say I Love You e She de Charles Aznavour.Durante o show o ambiente macabro entra em pausa, a música domina o terror anterior, como um flautista de Hamelin Peixoto conduz a todos para um passado de beleza e amor,onde as velhas ainda não possuíam as doloridas joanetes,onde os paus dos velhos subiam em direção aos céus da excitação sexual. Cauby encerra o show cantando My Way, sim o velho Cauby Peixoto fez tudo a sua maneira, se vestiu como um clown efeminado,estourou nos Estados Unidos e acabou terminando a sua carreira num bar na porta da boca do lixo,porém todos o aplaudem de pé,alguns choram,todos ali o amam,inclusive eu.Yes,he did it in his way.

quarta-feira, 4 de maio de 2011

Literatura de porrada!

Chuck Palahniuk é um escritor originalissímo. No Brasil é conhecido pelo middle-brow por Clube da Luta do qual escreveu o romance que originou o filme, porém sua produção literária é vasta, no país já temos uma meia dúzia de romances do rapaz editados.
O que diferencia a literatura de Chuck da massa de papel publicada atualmente, principalmente em terras estadounidenses (creiam, a quantidade de títulos é espantosa) é um certo caráter figadal, as obras de Palahniuk atingem o coração de uma sociedade medíocre que insiste em esconder suas pulsões sob máscaras,o escritor realiza istto através de personagens como o alter ego ambulante Tyler Durden de Fight Club que realiza as pulsões incofessáveis de seu corpo ou os personagens de Assombro, um grupo de escritores de horror que ao se reunirem num solar para um concurso de contos liberam todas as suas perversões num festim de orgia, sangue e canibalismo. Para Chuck o homem é um animal sempre acuado por leis que o impedem de viver plenamente e que a qualquer oportunidade essas feras se libertam com consequências desastrosas para elas mesmas e para os outros, é uma espécie de bio-anarquismo, os instintos no final sempre vencem.

segunda-feira, 2 de maio de 2011

Aviões,Trens,Automóveis e Amizade


Seguindo uma indicação de Roger Ebert de seu livro Grandes Filmes assisti a Antes Só do Que Mal Acompanhado(Planes,Trains & Automobiles,1987) de John Hugues e o prazer foi grande.Meu desprezo pela película sempre se deveu ao preconceito puro,achava que o filme era somente mais uma comédia rotineira estrelada por Steve Martin nos anos 80,como Trocando as Bolas e Roxanne,mea culpa,mea culpa,o filme é uma jóia,uma dessas delícias próprias para as tardes de domingo (costumo incluir nessa categoria alguns filmes de Mike Nichols como A Difícil Arte de Amar,Secretária de Futuro e Lobo).São filmes luminosos,bem-humorados que muito falam sobre a condição humana,colírios para a nossa miopia cotidiana.
Em Antes Só Steve Martin faz o papel de Neal Page,um burocrata do marketing que esta saindo de Nova Iorque para encontrar a família em Chicago a dois dias do Thanksgiving,porém a viagem não vai dar certo,haverá escassez de táxis,pousos e decolagens prejudicados pelo mau tempo,trens enguiçados entre outros empecilhos.Como companheiro desta jornada Page encontrará Del Grifith (John Candy em sua melhor atuação) um vendedor de argolas para cortinas de banheiro,gordo,desajeitado e inconveniente,que clama ser amado somente por sua esposa,carregando um enorme baú (objeto o qual descobriremos o significado metafórico somente no final da trama)que contribuirá para as agruras do personagem de Steve Martin. Temos aí uma comédia de erros com risos abundantes,como Perdidos em Nova Iorque (Out Of Towners com Jack Lemmon)em que nada dá certo,porém percebemos que o filme de Hugues é muito mais do que isso.Após dois dias na estrada Page se despede de Grifith numa estação de metrô de Chicago, o personagem de Martin então,se refestela num banco do metrô aliviado por estar no final de tão conturbada jornada,por ter se livrado de Grifith,fecha os olhos e relaxantes e prazeirosas imagens de sua família surgem em sua mente,porém essas imagens se mesclam com lembranças dos momentos vividos ao lado de Del Grifith,momentos de ação e riso,momentos que mesmo involuntariamente fizeram com que Page saísse de sua vidinha burocrática de executivo,aquele homem chato, apesar de tudo, havia se tornado um amigo.Num segundo insight Martin percebe o porque do personagem de Candy ser tão grudento,ele se recorda de uma série de incongruências do discurso de Grifith sobre a sua mulher,sim,não existia mulher alguma,Grifith era um solitário e aí descobrimos o significado do baú,o objeto representa a dor que o homem carrega,a dor da perda da mulher amada,morta oito anos antes.Temos aí um filme sobre a amizade,ninguém neste mundo é perfeito e a maior parte dos nossos defeitos tem um motivo,muitas vezes motivos que preferimos manter escondidos,ser amigo de alguém é fazer vista grossa a estes defeitos e tentar corrigi-los quando possível,a amizade é mais um ato de amor incondicional ao qual devemos nos submeter na nossa existência.Page volta a estação e encontra Grifith sozinho,desamparado,sentado em um banco da estação,momentos depois vemos os dois homens chegando a casa de Page,Grifith divide o peso do baú com Page,cada um segurando uma alça,o almoço de Ação de Graças esta prestes a ser servido,Page apresenta o amigo com orgulho aos familiares acolhendo-o no amago de seu lar,ao lado de seus entes mais amados,Grifith sorri deliciado e nós choramos de emoção. A amizade entre os dois homens esta selada,o nosso amor por Antes Só do Que Mal Acompanhado também.

sexta-feira, 29 de abril de 2011

Saló ou sobre o prazer e o vazio

Finalmente consegui assistir a Saló-Os 120 Dias de Sodoma, a obra derradeira de Pier Paolo Pasolini.Particularmente nunca gostei de seus filmes,Teorema,Decameron o Evangelho Segundo São Mateus,Pocilga obras de certa forma simplistas apesar de fortemente barrocas,artesanais,mediterrâneas,imagino-as com um forte cheiro de terra molhada,de barro puro.
Saló é um choque,provavelmente o filme mais incômodo já feito,não assusta pela violência e pela depravação,todas as gruesome scenes já estavam lá no Marquês de Sade,o que perturba é o contexto,os diálogos adicionais escritos por Roland Barthes,o que choca é a maldade inerente ao ser humano,é a desesperança diante da redenção ao mal que nos habita,o desejo de domínio sobre o outro,o querer a obediência cega,subjugar e submeter a vontade,seja ela sexual,econômica ou política.Saló mostra alguns burocratas na Itália fascista que sequestram um grupo de jovens,homens e mulheres,para usá-los nas mais bizarras explorações sexuais que descambam para a tortura e o assassinato.É óbvio que o filme antes de mais nada é uma metáfora política sobre o que os fascistas fizeram com a Itália,as vítimas representam o povo italiano,em dado momento um dos burocratas confessa ter matado a própria mãe,nada mais óbvio.O final do filme é estranhamente pessimista,nenhuma palavra ou sinal de punição aos facínoras,os maus sentem apenas prazer e tédio.
Assistindo Saló lembrei-me de Ideologia,genial episódio do filme O Estranho Mundo de Zé do Caixão de José Mojica Marins, no filme Oaxiac Odez (interpretado por Mojica) comprova através de um experimento que os instintos são superiores a racionalidade no comportamento humano,para tanto priva um casal de água e alimentos por vários dias até que a mulher mata o marido para lhe beber o sangue e comer a carne, no final acaba sendo morta por Oaxiac que se alimenta dos restos mortais de ambos num macabro banquete.O filme acabaria assim,niilista,porém a censura militar bateu o pé e Mojica teve que incluir uma cena da casa em que acontecia o banho de sangue sendo atingida por um raio e alguns dizeres referentes a ira de Deus contra os maus,vexame artistíco do qual Pasolini escapou ileso.Mojica (seu filme é de 1968) e Pasolini (Saló 1975) realizaram dois filmes semelhantes,obras geniais sobre a estranha condição do ser humano,teria Deus o direito de fulminar com um raio suas próprias criaturas? Teria um louco de acabar com alguém como Pasolini a facadas? Claro que não,mas aos maus cabe somente o prazer e o tédio.

Fragmentos de uma sessão de Psicanálise com um louco

Falo sobre a paixão em época que me interesso pela vida.Procuro descobrir a cada dia uma nova maravilha que me leve a crer que essa passagem tem sentido,essa colagem de momentos de tanta felicidade e desespero, todos esses remorsos,todas essas saudades, todo o prazer que me invade nas horas mais impróprias, toda a dor que me persegue, o ar que me traz cheiro antigo,a saudade de um tempo que passou, a expectativa de um tempo que virá, a vida crua do presente que não existe.
Pessoas frívolas que desperdicio de tempo! O mundo nem a vida lhes são necessários, viver para vocês é algo corriqueiro,viver para o medíocre é um dia após o outro,viver é rotina para quem não tem vida. Tento revolucionar o entendimento agora e viver de uma vez só toda a felicidade que só me faz bem, viver como o fluxo automático de palavras que vazam do cerébro para a máquina, viver um caso de amor com as melhores fodas e os maiores carinhos, viver de maneira absolutamente sem sentido,escrever em blogs fantasmas onde ninguém coloca os olhos,pensar em o que fazer com a minha miséria, o que eu faço para matar alguém que esta iva e é imortal? Alguém que habita passado,presente e futuro? O que eu faço para controlar as punhetas desvairadas das madrugadas? O que eu faço para não beber durante os dias e amargar ressacas no Jornal Nacional? O que fazer para fugir das obsessões literárias e dos problemas financeiros? Viver como nababo ou franciscano? Foder cú ou buceta? Matar o tempo ou políticos em férias? Viver sobre a batuta de Sartre ou de Pedro de Lara? Amar a matriz ou a filial? Ter esperança ou só cultivar o desepero? Ter respostas ou abandono? Não sei não...

quarta-feira, 20 de abril de 2011

Revendo alguns incríveis wonder boys


O filme Garotos Incríveis de Curtis Hanson é uma dessas gemas que praticamente passaram despercebidas pelos cinemas brasileiros lá pelos idos do ano 2000, é uma pena, um filmaço que transborda cinismo, sagacidade e um punhado de emoções bastante complexas.
No filme Michael Douglas interpreta Grady Tripp, um professor de literatura maconheiro que nutre taras por suas alunas ninfetas, tem um caso com a diretora da faculdade e esta atolado no meio de um romance que não consegue terminar, Grady é também escritor de um único sucesso que o tempo começa a apagar da memória das pessoas. O filme enfoca um final de semana da vida desse professor, seu encontro com um velho amigo editor, homossexual e não menos desesperado e a participação de um jovem pupilo em meio a uma maratona de desencontros. Garotos Incríveis, baseado no excelente romance de Michael Chabon (lançado aqui pela Record) é uma história sobre a efemeridade da fama,  e como no mundo atual sempre existe alguém atrás na fila, empurrando, clamando pelo seu lugar, ou seja, como tudo e todos são descartáveis, tudo é feito para consumo fast-food, tudo estraga depressa, o mundo quer novidade. Em dado momento o personagem de Douglas desilude seu pupilo dizendo que ninguém mais se importa com os livros , que escrever é algo inútil. Por um certo viés o amargo professor esta correto.

segunda-feira, 18 de abril de 2011

Uma sutil elegância

Escrito  originalmente  em  18.06.08,hoje reencontrei o sentido através do amor.


“A raposa sabe muitas coisas, mas o ouriço sabe uma coisa muito importante” Arquiloco

Faço questão que a brisa noturna entre pela porta entreaberta, nesta época do ano ela é mais ousada, menos dada a licenças e sutilezas, porém nunca deixa de trazer um leve cheiro de estrelas. Penso na solidão, penso na ilusão de que existe algum motivo para lutarmos, nós pequenas formigas sem razão de ser, encher a cara de Bourbon no bar, trepar, comer, tentar entender através dos livros, mas quanto mais se procura menos se acha, tudo se revela oco, uma piada sem graça, um enredo sem estofo, uma fumaça de cigarro efêmera que gruda na mente e cria a memória condicionante, queremos de alguma forma buscar no hoje os vestígios de alegria do ontem mas eles são inalcançáveis my dear, o jogo não tem volta, temos que viver com a imperfeição, com a desesperança, procurando coisas para colocar na sacola vazia, sempre atrás de um friozinho na barriga que nos mostre que tudo isso aqui não é só um sonho como todo o passado, viejo Calderon de La Barcaça.
Passei o dia na cama, dont let the Sun go down on me, como os vampiros de Lost Boys (e passado que não vai embora) como amigo somente o maravilhoso romance A Elegância do Ouriço de Muriel Barbery, no brilhante livro a francesa nos conta a estória de duas moradoras de um edifício de luxo de Paris, a primeira tem 54 anos e é a conciérge do prédio, com pouca educação formal porém leitora ávida de filosofia é uma arguta observadora dos tipos humanos que circulam a sua volta, a segunda é uma menina de 12 anos, precocemente desiludida com a vida e planejando cometer suicídio. As trajetórias de ambas se cruzarão nesse grande manifesto contra a burrice e a insensibilidade humana que nos faz pensar se viver vale a pena uma vez que as decepções afloram dia após dia, sejam com os amores, amigos e com o mundo. Talvez viver ainda é válido pela existência de romances tão bons como esse A Elegância do Ouriço.

quarta-feira, 13 de abril de 2011

L Homme qui aimait les femmes

Muito interessante o texto escrito por Heloisa Seixas sobre um homem cascudinho (espécie que não chega a ter a unha do dedo mindinho cumprida e no outro extremo não possui nem idéia do que fabrica a Lâncome) que expressa um amor violento,total,incondicional a todas as mulheres do mundo,questionado sobre o que era a beleza feminina esse mestre e grande frasista da língua definiu de forma tranquila,soberba e fleumática a querela: "Minha amiga, na cama todas as mulheres são lindas."
Tal imenso nariz de cera existe apenas para implementar e inflamar o meu apelo: homens amem as mulheres,esses doces seres que povoam a nossa existência,esses bichos cheirosos que sentem frio nos pés e acreditam em astrologia, essas criaturas que povoam a nossa brutal existência em lirismo,essas pessoas que nos inspiram a poesia,coisas pelas quais matamos e morremos.O amor por uma mulher nunca deve ser particular,o homem apaixonado escreve cartas para o mundo,o homem apaixonado deve apelar para a pura e boa breguice, salve Rei-ginaldo Rossi "Mon Amour,Meu Bem,Ma Femme"(clássico cuja a trabalhadíssima letra se encontra no final do texto)! O homem apaixonado recorre as Loucuras de Amor dos programas das tardes dominicais,o homem apaixonado respira a mulher,cheira a mulher,injeta o objeto de desejo nas veias meio vazias dos braços,uma vez que o sangue já fluiu para outra parte do corpo que frente ao minimo vestigio do objeto amado imediatamente já apresenta o vitalissimo rigor mortis da tesudez da completude.Amem desgraçados,amem as suas femêas como homens,presentes,mimos,sexo avassalador,entrem sem medo no cheque especial da entrega total,sejam Truffaut,não sejam medíocres,aproveitem da mais maravilhosa embriaguez do mundo, barato e brisa que só pode provir dos lábios de nossas musas cotidianas,sejam Rossi,sejam Truffaut,sejam O Homem que Amava as Mulheres.

Mon Amour, Meu Bem, Ma Femme
Reginaldo Rossi
Composição: Cleide

Nesse corpo meigo e tão pequeno
Há uma espécie de veneno
Bem gostoso de provar
Como pode haver tanto desejo
Nos teus olhos, nos teus beijos,
No teu jeito de abraçar

E foi com isso que você me conquistou
Com esse jeito de menina
É esse gosto de mulher
E nada existe em você
Que eu não ame
Sou metade sem você

Mon amour, meu bem, ma femme

segunda-feira, 11 de abril de 2011

Wes Anderson

Consegui ver Rushmore,filme de Wes Anderson raro no Brasil,de 1998 anterior ao maravilhoso "Os Excêntricos Tanembaus".Rushmore é mais uma obra de gênio,é um filme que pertence (como todos os seus outros filmes) a um gênero indefinido e indefinível,não sabemos se é drama ou comédia sem risos ou experimento estético ou melodrama açucarado ou teatro ácido ou um pouco de tudo isso. Seus personagens são mais humanos do que se pode ser humano,são maus e bons,egoístas e altruístas,lúcidos e loucos e apesar do pé sempre atolado na lama esses maravilhosos seres conseguem sempre manter uma aura de dignidade,a cabeça sempre erguida acima de suas trapalhadas,sempre errando e errando de novo,coisa que é comum a todos nós,tudo isso faz com que esses seres de película sejam inesquecíveis. Seus filmes tem uma certa atmosfera de sonho,aqueles deliciosos malucos desfilam num mundo meio lirico povoado por indianos,enfermeiros,escroques,táxistas bandidos em carros caindo aos pedaços,arrogantes que sempre se arrependem,maus que no final fazem seu mea culpa junto aos bons e todos se perdoam e dão aos mãos, Wes Anderson parece ser homem de um só filme,um só sonho que se renova a cada nova empreitada e nos arranca lágrimas de alegria e prazer estético,suas fábulas humanas parecem o tempo todo nos dizer que no final das contas todo mundo tem os seus motivos,todos tem seus egoísmos e mesquinharias mas no fundo ninguém deixa de ter algo de bom e o perdão nos redime e nos faz renascer,Wes Anderson é o mais humano dos cineastas atuais,o mais doce,o mais lúdico,o mais genial,talvez Frank Capra tenha mandado um anjo para abençoar esse menino e fazer com que ele continue nos dando esses filmes fantásticos que não se cansam de dizer que,apesar de tudo,its a wonderful life.

domingo, 10 de abril de 2011

Zé do Caixão é o patrono do Brasil

 A trama de  A Encarnação do Demônioé simples, depois de quarenta anos guardado num presídio o ex-coveiro Josefel Zanatas, Zé do Caixão pros chegados, é posto em liberdade e reinicia  sua busca  pela mulher única que lhe gerará o herdeiro perfeito e na sua jornada passa a ser perseguido por vários desafetos do passado, alguns vivos e outros nem tanto.
No início do filme é muito duro engolir Mojica como o terrível vilão, velhusco e gordote andando pelo centro de São Paulo acompanhado por um hilário e maltrapilho corcunda, Zé do Caixão só se comunica aos berros em pequenos discursos em que come os esses, pintam alguns PMs molambentos com fardas totalmente absurdas, Zé pede um "caneco do seu melhor vinho" num boteco de favela, até ai estamos diante de uma das maiores comédias involuntárias dos últimos tempos, perdendo talvez somente para Falsa Loura de Carlos Reinchenbach, porém em dado momento algo acontece e todo aquele riso começa a ficar meio amarelo,surgem alguns fantasmas de parquinho e aos poucos a barra começa a pesar. Em dado momento a palhaçada inicial se transformou num pesadelo capaz de deixar um avestruz com náuseas, torturas que fariam  que qualquer diretor destes "almost-snuff" do sudeste asiático se borrassem de nojo, medo e angústia. Essa transição do fajuto ao vômito, ao gore, a porrada no saco é uma das coisas mais originais feitas em cinema nas últimas décadas, fico admirado tamanha transgressão ter sido co-patrocinada pelo Cinemark, empresa ultra-careta, imagino as senhoras de classe média, domingão a tarde, baldão de pipocas jumbo no colo vendo coisas como um rato sendo... bom, xáprala.
Emblematicamente e genialmente o climax do filme se dá no Playcenter território no qual Mojica o cineasta, devido às inúmeras políticas artísticas e econômicas esteve relegado nos últimos anos, ao invés de cinema um dos nossos maiores diretores apresentava performances mambembes infanto-juvenis, Zé do Caixão se vinga do Brasil mostrando a todos nós o quanto é engraçado e medonho o nosso mundo, A Encarnação do Demônio é uma metáfora do Brasil, hilário e apavorante e o pior é que continua com nós após sairmos do cinema, grudado na mente, na forma de um pesadelo.

quinta-feira, 7 de abril de 2011

Fome de Amar

Apesar de ter sido feito a mais de vinte anos,a atualidade de Fome de Viver é inegável, a cena de abertura em que o casal de vampiros Miriam (Catherine Deneuve bela da tarde, da noite e da manhã) e John (David Bowie) chegam a uma boate para caçar suas presas parece ter sido rodada no último final de  semana no  Baixo Augusta, a linguagem publicitária (não me agrada particularmente)que Tony Scott utiliza no filme não envelheceu.Fome de Viver é retro-chique.
Muitos disseram que Fome é um filme sobre a implacabilidade do tempo e a mortalidade consequente do inexorável passar das horas,sendo assim uma espécie de continuação de Blade Runner,dirigido pelo irmão do diretor de Fome,Ridley Scott. Runner,realizado um ano antes de "The Hunger", termina com o replicante Roy se questionando sobre quanto tempo ainda teremos e Fome de Viver tenta refletir sobre o fenômeno tempo através da ótica dos relacionamentos.
O filme começa com os vampirões em uma boate moderninha, de lá saem acompanhados de um casal para um suposto "swing" porém o que espera os desavisados namorados é a faca (sim,os vampiros de The Hunger não possuem dentões)e a deglutição de seu sangue por John e Miriam.A sangrenta troca de casais nada mais é do que uma representação de uma tentativa de renovar um relacionamento já antigo,já meio desgastado pelo tempo, muitos casais em declinio recorrem a clubes de swing para tentar dar uma apimentada na relação.Depois vemos John se dirigindo a uma cliníca onde a Dra.Sarah (Susan Sarandon) pesquisa formas de aumentar a duracao da vida humana, descobrimos então que John,por mais sangue que beba,esta envelhecendo rapidamente, a consulta com Sarah é um grito de socorro,John representa o envelhecimento de um caso de amor. Após uma mal-sucedida consulta com a médica John retorna a sua casa, onde uma menina de aproximadamente dez anos espera Miriam para suas aulas de piano.John ataca a garota e bebe seu sangue, era essa menina que tocava para deleite de ambos uma bela música de amor ao piano,o assassínio da menina representa a última tentativa de John salvar o amor perdido,a garotinha representa uma músíca romântica antiga que marcou o inicio do relacionamento de John e Miriam,uma tentativa de retornar a um passado jovem (uma criança) e dourado.Miriam chega, ele confessa a ela seu crime e morre em seus braços,aparentando uns cento e cinquenta anos de idade. Miriam leva o decrépito corpo para o sotão de sua casa e o coloca em um caixão, vemos que existem vários outros caixões no macabro depósito, ex-amantes de Miriam através dos tempos.Mas por que ela sobrevive a todos os seus amores? A metáfora é óbvia,Miriam é mais forte porque consegue literalmente enterrar seu passado, seus amores acabam e ela segue em frente,parte para um novo mundo,enterra seus  mortos.
Miriam recebe então a inesperada visita da Dra.Sarah que intrigada pelo envelhecimento relâmpago de John sai em busca de respostas.Miriam seduz Sarah e a transforma numa vampira,tudo num clima lesbian-chic, ambas se tornam amantes,conforme já dito,Miriam não consegue ficar sem companhia e Sarah é sua nova parceira,porém Sarah rejeita Miriam numa alusão a homofobia.No filme vemos um estranhamento em relação a amar uma vampira,na verdade o que a situação mostra é a rejeição de Sarah,uma mulher até então heterossexual e casada,por um homossexualismo latente que começa a se manifestar,Sarah então tenta se matar buscando por um ponto final em suas pulsões homoeróticas, Miriam,rejeitada pela médica entra em crise,desta vez não há como colocar a jovem e fresca (um amor novo e maravilhoso) num caixão e seguir em frente,nesse momento os corpos em decomposição dos amantes do passado de Miriam saem de seus esquifes e numa cena cruenta, que contrasta com a sutileza geral do filme,levam a vampira para a tumba do esquecimento.
O filme termina com Sarah na sacada de seu apartamento,do sotão ecoam os gritos de Miriam, ou seja, apesar de ter rejeitado Miriam em nome da moralidade a vampira ainda vive na alma de Sarah,um amor inesquecível.Sarah continua vampira (lésbica),o filme termina.
Fome de viver é  um filme visão sobre a necessidade que temos dos outros e como essa necessidade muitas vezes definha e acaba.Porém a maior pergunta do filme fica em aberto, a agrura que Miriam,tão experiente,não conseguiu suportar, o que fazer com um amor que acaba em seu auge? Como esquecer o paraíso?

quarta-feira, 6 de abril de 2011

Cinema pintado com chá, vida desenhada na água..

Pai e Filha de Yasujiro Ozu segue a máxima de Tolstoi que diz que ao falarmos de nossa aldeia estamos falando do mundo. Cinema mais íntimo, delicado, repleto de hiatos não existe, é o oposto da produção e da mente ocidental, dos cortes frenéticos e dos planos transbordando de ação inconsequente, tudo em Ozu é trabalhado com esmero, como em uma cerimônia de chá, um desenho de um ideograma que nos mostra a simplicidade do relacionamento entre uma filha e seu velho pai, muitas vezes cheio de momentos bruscos, e o rompimento dessa vida em comum com o casamento da moça. Viver, viver no presente é mensagem xintô do mestre Ozu, aproveite os frutos da árvore da vida hoje, amanhã a cerejeira já os expeliu e ficamos apenas com as folhas, a mensagem serve tanto para um mineiro do Casaquistão quanto para um ourives de Pirassununga.
Aqueles que ainda tiverem condições de se entregar a um programa como Pai e Filha não devem perder tempo, as cerejas amadurecem rápido demais. 

A Estrada

A Estrada do Trovão é faminta, ela consumiu todos os verdes anos e agora só sobrou um certo limbo, não somos mais jovens e nem somos velhos, somos medíocres, vivemos num conforto de merda, vivemos embaixo de uma marquise com medo da chuva, com medo dos trovões daquela estrada que comia tudo, que fodia os nossos cabaços e nos realizava nos altares do excesso do velho Wilde, agora é só o pão com manteiga dos escritórios, a dieta da prudência que nos apodrece devagar como os quadros protegidos dos museus, somos só punheta cujo enredo é a memória e a saudade da Estrada do Trovão que nunca adimitiu o meio somente o fim, o extremo, o porre, o vômito e o fígado, a morte vital e não a vida mortal, Thunder Road, será que um dia poderemos voltar a trilhar seu caminho sem fim?

terça-feira, 5 de abril de 2011

Breve comentário sobre a vida em tempos de guerra.

     Eu queria tanto levar a Ana Maria Braga  a  sério. Queria achar que a “galerinha” do  Big  Brother  Brasil  é   gente  como  a gente   e só quer mostrar   o valor  desse povo bronzeado ,um  valor sem  epistemologia,sem  escrúpulo, uma qualidade  onanística nas  páginas  das revistas de masturbação.  
      Gostaria muito de achar o Luciano Huck e a Angélica pessoas legais que contribuem para a nossa sociedade distribuindo prêmios e se abstendo de vida sexual. O “Casal 20  Daqui”.
Gostaria de  achar  o Zeca  Pagodinho    um  herói  marginal  que    pensa em   cerveja.  Ele e os pagodeiros  que  curtem muito  o “samba de raiz” e  querem  resgatar   o   passado  dos  morros.
      Queria ter simpatia  pelo  Airton  Senna,pelo Guga, pelo Padre  Marcelo, pelo Chico  Xavier além de    Caetano   e  Betânia  com seus blogs milionários  e suas preocupações com  os Filhos  de Gandhi.
   A Maria Rita e a Maria  Gadú seriam Deusas da MPB.O  Pedro Bial,  que jornalista  legal que   ele é  contribuindo  para  a moçada  do BBB.A  Ana  Maria Braga (again)conversando com um papagaio  de  borracha,lirismo  puro. E o Obama? Salvação do mundo pela negritude. 
    Lembrei-me agora,  last but  not  least, da Revista Veja tão iconoclasta com  o  seu    Diogo Mainardi, um   Paulo  Francis de  chocadeira, igualzinho ao Zico,  distribuindo  informação e  inconformismo   para  a  Classe  Média.
     Mas eu não acho nada disso, acho que somos apenas números, se vale o  quanto se  produz,não   importa o que  ou por quais meios.Ninguém hoje em dia liga  para a coerência, decência,dignidade. Hoje vale mostrar  o cú  por patacas,hoje se vira  viado   ou sapatão  por  obrigação social  e não   por gostar   de  pau  ou  buceta. Hoje  vale  a pena  participar de   um  joguinho sujo    regado a   uísque, peidos  e vomito  de  empresários  e politicos,hoje  vale achar  que a dupla Fernando  e   Sorocaba  esta salvando vidas em   shows  beneficentes   enquanto  se arranca o couro  dos   empregados  e   subordinados .É  nisso que vivemos.

segunda-feira, 4 de abril de 2011

Kubrick-O Grande Golpe


O Grande Golpe, um dos primeiros filmes de Stanley Kubrick, é uma das grandes provas da lei do velho guerreiro: Nada se cria tudo se copia.
O filme é genial, fala sobre uma gangue meio mambembe que pretende assaltar o jockey em dia de grande prêmio, o que salta aos olhos de todo cinéfilo é a montagem originalíssima que viria a ser copiada inúmeras vezes nas últimas décadas, a ação final é mostrada pelos pontos de vista dos diferentes personagens até chegar a seu climax, recurso pelo qual queridinhos como Tarantino e principalmente Guy Ritchie vivem sendo chamados de "gênio" hoje em dia. Notem o personagem Maurice e como pipocam similares seus no cinema atualmente , um pacato professor de xadrez que profere frases extremamente inteligentes que se revela um brutal "bar fighter" por grana, idéia pós-moderna?
O Grande Golpe nos demonstra claramente a diferença entre unanimidade e clássico, toda unanimidade é burra pois elas são efêmeras, os clássicos nunca morrem. Guy Ritchie e seus canos fumegantes, snatches e rocknrollas (coming soon) são unanimidades.Kubrick é clássico

Realidade


Ataco de fenomenólogo,vou filosofar sobre o mundo sensível e pretendo ser metafísico,ser existencial,ser materialista,ser contraditório,quero que não exista método na minha filosofia,me ajude São Nietzsche!Me empreste sua lucidez maluca ó grande Louco de Turim! Me ensina a viver como super-homem, me auxilie,quero ser o Anti-Cristo, quero as palavras faladas pelo velho Zaratustra! Homem,quem és tú? Vida me decifra ou te devoro!Miséria nossa,leitores de Caras me ensinem a carregar esse fardo que se estende do despertar ao deitar, só os sonhos nos livram dos grilhões,mais uma vez Friedrich te invoco,você que enlouqueceu devido a tanta sanidade,que sifilis que nada! O mundo real é real ou é delirio? Os amores existem? Os intímos irmãos que nos abandonam a nossa própria sorte existem? O ar existe? Por que estou condenado a este tempo?Por que sou eu e não outro?Por que vivo aqui e não numa cidade grega do período clássico?Por que sou isso e não um monje medieval? Um corsário praticando pilhagens a serviço de nossa Majestade?Insuportável realidade que destrói,que pilha,vida a qual obedecemos de olhos fechados? Enfrentar isso,de que jeito? Obedecer a quem? A Deus? Mas como obedecer a um criador invisível uma vez que não acredito nem mesmo na minha própria existência?Heidegger,Sarte,sejam mais claros,Heidegger perfeito porém nazista,Sartre perfeito porém stalinista, culpados pelo erro,senhores de suas vidas,escravos das ideologias fomentadas por mentes inferiores,escravos sem querer,viva Camus! Morreu existencial e jovem proibido assim de se contradizer,coerência senhora das mentes medíocres! Fujo então para A Sombra de Heidegger de Jose Pablo Feinmann e descubro,a última esperança é a arte,só ela pode nos dar uma segunda chance de realidade,só ela nos tira do mundo por efemeros instantes,belíssimo romance de filosofia,filosofia de romance.
Amanhã vai chover em São Paulo.

domingo, 3 de abril de 2011

Roth.

Não é exagero afirmar que O Animal Agonizante (Cia.das Letras)de Philip Roth é um dos melhores romances de todos os tempos,com cerca de cento e vinte páginas poderia ser chamado de novela porém a grandeza do livro não pode ser medida pelo seu volume,leiam imediatamente e me darão razão.
David Kapesh é um professor sessentão, aposentado que apresenta um pouco visto programa sobre arte na TV além de ministrar cursos esporádicos,ao final de cada curso Kapesh organiza uma festa para os alunos em seu apartamento e obrigatoriamente leva uma delas para cama,até conhecer Consuelo uma descendente de cubanos por quem se apaixona perdidamente e numa entrevista com alguém desconhecido expõe sua amarga visão sobre a vida e a morte.O romance é tão profundo que muitas vezes parece que estamos diante de algo da grandeza de Sheakespeare, imaginem um Complexo de Portnoy (o primeiro grande livro de Roth,também narrado em forma de confissão) trinta anos mais maduro e você terá uma vaga idéia do que é O Animal Agonizante.Roth,na breve confisão do pervertido professor trata dos mais importantes aspectos da vida humana tais como paternidade,amizade,politica (a situação cubana) e sobretudo sobre o amor e a morte,é inesquecível uma das frases do livro que diz que, ao contrário do que é popularmente dito,o amor não completa ninguém,somos completos antes do amor e depois dele nada mais do que fragmentos de algo inexplicável,o amor é a única obsessão a qual buscamos por vontade própria, sim uma visão extremamente amarga,mas ao final Roth nos da uma piscadela,talvez as coisas não sejam tão ruins assim e somente Eros pode,pelo menos,nos aliviar da carga de Tânatos.

Reflexões com Mr. Bob Dylan

Nada mais frutífero do ponto de vista filosófico do que o porre solitário. Nada mais lindo do que se embebedar sozinho,apenas observando com atenção,olhando com carinho os outros e suas ridículas discrepâncias e principalmente descobrindo os nossos próprios podres enterrados no peito como sapos de macumba.
Pois bem, estava lá no balcão transcendental,local de tantas galhofas,tantos risos,tantas glórias e derrotas,tanta fraternidade íntima,estava lá sozinho,meus únicos companheiros eram uma dupla de senhores escoceses chamados Justerine & Brooks afogados em cúbicos icebergs, ouvi Bob Dylan cantando espectralmente,profeticamente,como se dirigindo particularmente a minha profunda solidão:
" How does it feel
How does it feel
To be on your own
With no direction home
Like a complete unknown
Like a rolling stone?"
Passei então a fazer um exame minucioso de minha vida,desde a minha tenra infância escolar onde comecei a sentir na pele a frase do Huis-Clos sartreano sobre a identidade do inferno e só surgia a pergunta "Qual a minha importância no grande esquema das coisas?" e pude,num lampejo de lucidez que só pode ser alcançado após a comunhão alcoólica responder,nenhuma, é essa nossa importância,nenhuma,nada temos,só ilusões.Somos como drogados em busca de mais uma pedra de crack,precisamos de ilusões para sairmos de nossas carcaças que envelhecem,corpos em decadência jogados sem misericórdia num mundo que não foi escolhido,num mundo pronto,num mundo com seus deuses e pecadores,num mundo com suas verdades e mentiras.Somos todos alcólatras em busca de mais uma dose,ela pode ser uma promoção para os carreiristas,um Ipad para os idiotas tecnológicos,um livro para um pretenso intelectual,uma viagem para aqueles que não se contentam com o mesmo chão sob os pés,um ato altruísta para os que possuem complexo de Madre Teresa,um estudo sério para um CDF,um Audi A8 para um ostentador,um amor para um sentimentalóide patético.Será possível viver sem ilusões? Sem drogas?Sem artificíos? Infelizmente não,nossa maldição é essa,buscar sempre e sempre não conseguir.Perseguimos um animal invisível,tentamos agarrá-lo pelo rabo até que chega a morte e põe um ponto final em tudo, como se toda essa briga se tratasse de uma brincadeira,de uma piada sem sentido.
Bob Dylan volta para me dar mais um toque,sim,o grande Jokerman é a nossa vida.

You must remember this...

Casablanca recebeu o prêmio de melhor roteiro cinematográfico de todos os tempos pelo Writers Guild of America, na verdade é um roteiro adaptado de uma peça chamada "Everybody Comes to Rickys" de Murray Burnett e Joan Alison. O filme mostra a estória de Rick(Bogart) um cinico proprietário de bar que reencontra um velho amor,o cenário é Casablanca,governada pelos nazistas na efervescência da Segunda Guerra. O que faz dessa estória,tão comum, a melhor de todos os tempos,na frente de obras como Cidadão Kane e Dr.Fantástico? Simples,é um conto de amor, é uma história sobre o magnetismo invisível,sobre os bálsamos etéreos que unem duas almas,sobre o destino que parece conspirar para que mesmo os encontros amorosos mais desastrados perdurem eternamente,destino esse que insiste em manter uma corrente imortal,um vínculo atemporal entre dois seres,é sobretudo um filme sobre a música do amor que ouvimos quando estamos apaixonados,imersos na sensação bittersweet da necessidade do outro, o amor é uma espécie de altruísmo,o amor é um momento de transcendência em que o nosso "eu" ja não é mais suficiente,temos que transcender no outro,viramos uma simbiose ambulante de sacrificio,dor e alegria,nos tornamos embriagados de vida e quando tudo isso se vai só temos o luto.O final de Casablanca é de conhecimento público,Rick abre mão de Ilsa num gesto do mais puro altruísmo,deixando sua paixão livre Rick faz com que o amor entre os dois se torne imortal,não existe mais julgo ali,Ilsa esta livre,porém eternamente ligada a aquele homem cinico,a aquele homem o qual conseguiu penetrar o coração,woman needs man and man must have his mate,that no one can deny

sábado, 2 de abril de 2011

O Poder do Mito

oseph Campbell é um exemplo único de intelectual,acadêmico e pop-star. Sua simpatia esportiva destoava totalmente dos estereótipos de scholars, Campbell lembra um tira novaiorquino de ascendência irlandesa, um bom tira,com o rosto sempre iluminado por um sorriso de bebe.É essa figura que resplandece na série "O Poder do Mito" lançada pelo selo da TV Cultura. Trata-se de uma longa entrevista concedida pouco antes da morte de Campbell ao competente jornalista Bill Moyers,nela o acadêmico esclarece o que são os mitos,qual o papel por eles desempenhados na história da humanidade e na nossa vida espiritual,qual é a ajuda proporcionada por essas figuras na condução de nossas existências,tudo é explicado de forma cristalina e até o mais materialista dos espectadores poderá entender a obra desse incomparável e insubstituível mitólogo, não é uma discussão sobre fanatismo e carolice,é uma conversa sobre o entendimento,sobre o inconsciente coletivo e suas implicações nas ações humanas.suas implicações na construção da cultura e na construção da arte pois segundo Joseph Campbell são os artistas os grandes comunicadores,a ponte de ligação entre o mundo divino inconsciente e a vida cotidiana.Vale por mil sessões de psicanálise.

Um estranho no ninho

Jack Nicholson,por ele já basta,mas tem muito mais.Muito mesmo. Revi ontem o filme O Estranho no Ninho (One Flew Over the Cuckoos Nest) de Milos Forman por acaso,o DVD veio por engano na caixa de outro filme e para mim aquilo foi o céu. Contracultura questionadora de nossas vidas medíocres, chega num manicômio Jack,malandrão gente-boa que cai ali se fingindo de louco para fugir do trabalho braçal pesado de uma colonia penal, gênio boêmio total passa a questionar os motivos existentes no tratamento dispensado aos internos,violência institucional demente e castradora que ao invés de melhorar piora a cabeça dos caboclos, Jack então incomoda a diretoria do cafofo e acaba se dando mal.Jesus Cristo do microcosmo dos desajustados,messias da mudança que faz acreditar na montanha interna nossa, senhor do inconformismo que nos falta.Iconoclastia pura para a salvação dos escravos, nós escravos de ocupações imbecis sem questionamento, nós que não acreditamos em nossas montanhas.
Melhor a cada ano,melhor a cada dia.

sexta-feira, 1 de abril de 2011

Nunca houve mulher como Barbarella

Jane como você era gostosa, meu Deus e Deus criou a mulher velho Roger Vadim e você catou a Jane e a transformou em Barbarella, e você pegou a filha do Sr.Henry Fonda e transformou em Senhora Vadim, francês safado que só pensava em triângulo, do time do Truffaut e não do Godard.
Barbarella é o filme mais erótico e tesudo dos anos sessenta, Jane Fonda com aquelas coxas grossas e vestida naqueles nylons e latex fetiches, tão coberta e tão pelada ao mesmo tempo, louca para dar como mulher e gozar como cadela no cio e não como manequim futurista (cuidado mulheres anoréxicas que dispensam o arroz com feijão, jájá a bacurinha seca e a previsão se concretiza!), Barbarella que leva a máquina que matava as mulheres de tesão a tilt, Barbarella que faz anjos desiludidos voltarem a voar! Ahhh nunca mais existirão mulheres como tú, ó Barbarella! E que saudade de ti ó saudável e irresponsável sacana vadio Vadim!

quinta-feira, 31 de março de 2011

Groucho Marxismo


Pitadas da sabedoria do grande filósofo:

Acho que a televisão é muito educativa. Todas as vezes que alguém liga o aparelho, vou para a outra sala e leio um livro

As noivas modernas preferem conservar os buquês e jogar seus maridos fora.

Inteligência Militar é uma contradição em termos.

Estes são os meus princípios. Se você não gosta deles, eu tenho outros.

O matrimônio é a principal causa do divórcio

Só há um forma de saber se um homem é honesto... pergunte-o. Se ele disser 'sim', então você sabe que ele é corrupto

Eu não sou vegetariano, mas como animais que são

Maai


Maai

Tokyo-Ga é o documentário em que Wim Wenders investiga a alma japonesa, o lado bonito, o lado crisântemo não o lado espada de uma cultura tão delicada e às vezes tão áspera, Wenders nos intervalos das filmagens de Paris Texas vai atrás das raízes do cinema de Ozu, que maravilha, que delicadeza, tudo tão longe tão perto, que gente estranha, que povo lindo, que cinema maravilhoso o desse Ozu.
Tokyo-Ga é magnifíco, um mergulho na alma de um povo que não é tão explícito como nós ocidentais, é um documentário delicado, sobre um cineasta delicado que nos mostrava que vale mais duas pombas voando e nada nas mãos, que vale mais o silêncio do que os sons, que vale mais o vazio do que o cheio. Que bom se fosse se o ocidente se enchesse de Ozu para finalmente ficar vazio de seus nadas.

é isso...

Quando acordo pela manhã ainda consigo sentir uma certa lucidez, as coisas in the wee small hours ainda parecem possuir algum sentido, por menor que ele seja, mais tarde quando o tempo vai avançando parece que tudo volta a mesma merda, o homem só nasceu para abusar do outro, inclusive eu mesmo, somos todos vítimas de um jogo mesquinho e estranho de aparências, que pessimismo da porra! Para abrir o blog estou começando bem. Talvez não apresente este muquifo para ninguém. Quem sabe. Depende do meu humor. E de minha inspiração.

Amor, uma carta para Sócrates


Sócrates andava por Atenas tentando desbancar os hipócritas da época, principalmente os sofistas, aqueles que achavam que sabiam alguma coisa e no fundo eram impostores correndo atrás de grana. Para derrubar essa turma das tamancas o velho filósofo bolou um negócio chamado maiêutica que consistia em fazer os pedantes confessarem auilo que não sabiam, por exemplo chegava para o suposto sábio e tergiversava (homenagem a Dilma): O que é o saber? E sem dúvida o mequetrefe sambava. Chegava para o guerreiro que se dizia corajoso e lascava: O que é a coragem? E o bruto se enrolava.Decidi enfrentar o desafio Socrático e tentar definir, o que na minha opinião, é o maior dos sentimentos, é aquilo que em última instância nos diferencia da bicharada, "this crazy little thing called love", sim lindos, o amor, lá vai a minha carta para o mestre (quanta pretensão)...


Querido e lindo professor de Atenas.

Lembranças para Dona Xantipa, que os Deuses do Olimpo acalmem seus humores, muitas vezes mais violentos do que deveriam ser. Caro instrutor, gostaria aqui apenas de tomar coragem e responder através desta missiva sobre a questão formulada por sua pessoa no Mercado de Atenas na última semana, você estava lá, filosofando com um polvo enrolado nas mãos enquanto eu comprava uma dúzia de olivas para acompanhar meu Ouzo. Viste meu semblante preocupado e perguntaste o motivo de minhas dores, e te respondi: amo alguém loucamente! e então me perguntou sobre o amor, o que era essa coisa, inclusive chegou a ousar sobre artistas bigodudos que no futuro tentariam explicar esse sentimento. Depois de muito pensar ouso responder-te através dos péssimos escritos abaixo, nobre filósofo: O Amor, meu Mestre, não é algo que podemos definir com palavras, logo de chofre, assim de uma vez. O amor, me refiro aqui ao amor homem/mulher ( ou algo que o equivalia neste mundo louco!) é um processo longo, em que a paciência dos entes envolvidos deve ser levada ao extremo, o amor é algo anti-gestáltico (infelizmente esse termo ainda não existe em sua época lindo professor) ou seja é uma coisa em que as partes são maiores que o todo, o amor é feito de blocos que juntos formam uma construção. Alguns exemplos: -Quem ama lembra o cheiro de Zinabre do colar que ela usava naquela primeira noite.

-Quem ama lembra daquele corpete vinho que ela colocou somente para te deixar louco

-Quem ama lembra do cheiro agridoce daquele pezinho mal-cuidado que só te fez feliz numa noite qualquer, num lugar qualquer.

-Quem ama lembra do medo de não ter sido o garanhão prometido por ter tido medo de desagradar.

-Quem ama lembra de ter ouvido músicas insuportáveis, poesias idiotas e programas imbecis, somente por amar.

-Quem ama lembra do primeiro dia de ter conhecido a mulher amada, se lembra da primeira barra pesada que passaram juntos.

-Quem ama se lembra de ter magoado, e de ter sido magoado e mesmo assim continuar amando.

-Quem ama se lembra do tipo da pimenta que ela gostava

-Quem ama lembra do jeito que gostava de ter os pés massageados

-Quem ama lembra daquela boca única em forma de coração-Quem ama lembra dos chás que a ela eram benéficos

-Quem ama lembra dos carinhos certos, nos momentos de tristeza-Quem ama se lembra de todos os sorrisos, de medo, de prazer e de amor.-

E aqueles que amam devem se lembrar de somente uma coisa, quem ama simplesmente ama.Explico:

-quem ama não é generoso, quem ama ama.

-quem ama não é companheiro, quem ama ama.-quem ama não é atencioso ou presente, que ama ama.

-quem ama não é bom,simplesmente, quem ama, ama. Sócrates, se sentiu pelo menos algumas coisas das mencionadas acima por alguém, saiba que amou, e se amou uma vez, será eternamente feliz e ao mesmo tempo infeliz.

Grato