domingo, 10 de abril de 2011

Zé do Caixão é o patrono do Brasil

 A trama de  A Encarnação do Demônioé simples, depois de quarenta anos guardado num presídio o ex-coveiro Josefel Zanatas, Zé do Caixão pros chegados, é posto em liberdade e reinicia  sua busca  pela mulher única que lhe gerará o herdeiro perfeito e na sua jornada passa a ser perseguido por vários desafetos do passado, alguns vivos e outros nem tanto.
No início do filme é muito duro engolir Mojica como o terrível vilão, velhusco e gordote andando pelo centro de São Paulo acompanhado por um hilário e maltrapilho corcunda, Zé do Caixão só se comunica aos berros em pequenos discursos em que come os esses, pintam alguns PMs molambentos com fardas totalmente absurdas, Zé pede um "caneco do seu melhor vinho" num boteco de favela, até ai estamos diante de uma das maiores comédias involuntárias dos últimos tempos, perdendo talvez somente para Falsa Loura de Carlos Reinchenbach, porém em dado momento algo acontece e todo aquele riso começa a ficar meio amarelo,surgem alguns fantasmas de parquinho e aos poucos a barra começa a pesar. Em dado momento a palhaçada inicial se transformou num pesadelo capaz de deixar um avestruz com náuseas, torturas que fariam  que qualquer diretor destes "almost-snuff" do sudeste asiático se borrassem de nojo, medo e angústia. Essa transição do fajuto ao vômito, ao gore, a porrada no saco é uma das coisas mais originais feitas em cinema nas últimas décadas, fico admirado tamanha transgressão ter sido co-patrocinada pelo Cinemark, empresa ultra-careta, imagino as senhoras de classe média, domingão a tarde, baldão de pipocas jumbo no colo vendo coisas como um rato sendo... bom, xáprala.
Emblematicamente e genialmente o climax do filme se dá no Playcenter território no qual Mojica o cineasta, devido às inúmeras políticas artísticas e econômicas esteve relegado nos últimos anos, ao invés de cinema um dos nossos maiores diretores apresentava performances mambembes infanto-juvenis, Zé do Caixão se vinga do Brasil mostrando a todos nós o quanto é engraçado e medonho o nosso mundo, A Encarnação do Demônio é uma metáfora do Brasil, hilário e apavorante e o pior é que continua com nós após sairmos do cinema, grudado na mente, na forma de um pesadelo.

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