sexta-feira, 29 de abril de 2011

Saló ou sobre o prazer e o vazio

Finalmente consegui assistir a Saló-Os 120 Dias de Sodoma, a obra derradeira de Pier Paolo Pasolini.Particularmente nunca gostei de seus filmes,Teorema,Decameron o Evangelho Segundo São Mateus,Pocilga obras de certa forma simplistas apesar de fortemente barrocas,artesanais,mediterrâneas,imagino-as com um forte cheiro de terra molhada,de barro puro.
Saló é um choque,provavelmente o filme mais incômodo já feito,não assusta pela violência e pela depravação,todas as gruesome scenes já estavam lá no Marquês de Sade,o que perturba é o contexto,os diálogos adicionais escritos por Roland Barthes,o que choca é a maldade inerente ao ser humano,é a desesperança diante da redenção ao mal que nos habita,o desejo de domínio sobre o outro,o querer a obediência cega,subjugar e submeter a vontade,seja ela sexual,econômica ou política.Saló mostra alguns burocratas na Itália fascista que sequestram um grupo de jovens,homens e mulheres,para usá-los nas mais bizarras explorações sexuais que descambam para a tortura e o assassinato.É óbvio que o filme antes de mais nada é uma metáfora política sobre o que os fascistas fizeram com a Itália,as vítimas representam o povo italiano,em dado momento um dos burocratas confessa ter matado a própria mãe,nada mais óbvio.O final do filme é estranhamente pessimista,nenhuma palavra ou sinal de punição aos facínoras,os maus sentem apenas prazer e tédio.
Assistindo Saló lembrei-me de Ideologia,genial episódio do filme O Estranho Mundo de Zé do Caixão de José Mojica Marins, no filme Oaxiac Odez (interpretado por Mojica) comprova através de um experimento que os instintos são superiores a racionalidade no comportamento humano,para tanto priva um casal de água e alimentos por vários dias até que a mulher mata o marido para lhe beber o sangue e comer a carne, no final acaba sendo morta por Oaxiac que se alimenta dos restos mortais de ambos num macabro banquete.O filme acabaria assim,niilista,porém a censura militar bateu o pé e Mojica teve que incluir uma cena da casa em que acontecia o banho de sangue sendo atingida por um raio e alguns dizeres referentes a ira de Deus contra os maus,vexame artistíco do qual Pasolini escapou ileso.Mojica (seu filme é de 1968) e Pasolini (Saló 1975) realizaram dois filmes semelhantes,obras geniais sobre a estranha condição do ser humano,teria Deus o direito de fulminar com um raio suas próprias criaturas? Teria um louco de acabar com alguém como Pasolini a facadas? Claro que não,mas aos maus cabe somente o prazer e o tédio.

Fragmentos de uma sessão de Psicanálise com um louco

Falo sobre a paixão em época que me interesso pela vida.Procuro descobrir a cada dia uma nova maravilha que me leve a crer que essa passagem tem sentido,essa colagem de momentos de tanta felicidade e desespero, todos esses remorsos,todas essas saudades, todo o prazer que me invade nas horas mais impróprias, toda a dor que me persegue, o ar que me traz cheiro antigo,a saudade de um tempo que passou, a expectativa de um tempo que virá, a vida crua do presente que não existe.
Pessoas frívolas que desperdicio de tempo! O mundo nem a vida lhes são necessários, viver para vocês é algo corriqueiro,viver para o medíocre é um dia após o outro,viver é rotina para quem não tem vida. Tento revolucionar o entendimento agora e viver de uma vez só toda a felicidade que só me faz bem, viver como o fluxo automático de palavras que vazam do cerébro para a máquina, viver um caso de amor com as melhores fodas e os maiores carinhos, viver de maneira absolutamente sem sentido,escrever em blogs fantasmas onde ninguém coloca os olhos,pensar em o que fazer com a minha miséria, o que eu faço para matar alguém que esta iva e é imortal? Alguém que habita passado,presente e futuro? O que eu faço para controlar as punhetas desvairadas das madrugadas? O que eu faço para não beber durante os dias e amargar ressacas no Jornal Nacional? O que fazer para fugir das obsessões literárias e dos problemas financeiros? Viver como nababo ou franciscano? Foder cú ou buceta? Matar o tempo ou políticos em férias? Viver sobre a batuta de Sartre ou de Pedro de Lara? Amar a matriz ou a filial? Ter esperança ou só cultivar o desepero? Ter respostas ou abandono? Não sei não...

quarta-feira, 20 de abril de 2011

Revendo alguns incríveis wonder boys


O filme Garotos Incríveis de Curtis Hanson é uma dessas gemas que praticamente passaram despercebidas pelos cinemas brasileiros lá pelos idos do ano 2000, é uma pena, um filmaço que transborda cinismo, sagacidade e um punhado de emoções bastante complexas.
No filme Michael Douglas interpreta Grady Tripp, um professor de literatura maconheiro que nutre taras por suas alunas ninfetas, tem um caso com a diretora da faculdade e esta atolado no meio de um romance que não consegue terminar, Grady é também escritor de um único sucesso que o tempo começa a apagar da memória das pessoas. O filme enfoca um final de semana da vida desse professor, seu encontro com um velho amigo editor, homossexual e não menos desesperado e a participação de um jovem pupilo em meio a uma maratona de desencontros. Garotos Incríveis, baseado no excelente romance de Michael Chabon (lançado aqui pela Record) é uma história sobre a efemeridade da fama,  e como no mundo atual sempre existe alguém atrás na fila, empurrando, clamando pelo seu lugar, ou seja, como tudo e todos são descartáveis, tudo é feito para consumo fast-food, tudo estraga depressa, o mundo quer novidade. Em dado momento o personagem de Douglas desilude seu pupilo dizendo que ninguém mais se importa com os livros , que escrever é algo inútil. Por um certo viés o amargo professor esta correto.

segunda-feira, 18 de abril de 2011

Uma sutil elegância

Escrito  originalmente  em  18.06.08,hoje reencontrei o sentido através do amor.


“A raposa sabe muitas coisas, mas o ouriço sabe uma coisa muito importante” Arquiloco

Faço questão que a brisa noturna entre pela porta entreaberta, nesta época do ano ela é mais ousada, menos dada a licenças e sutilezas, porém nunca deixa de trazer um leve cheiro de estrelas. Penso na solidão, penso na ilusão de que existe algum motivo para lutarmos, nós pequenas formigas sem razão de ser, encher a cara de Bourbon no bar, trepar, comer, tentar entender através dos livros, mas quanto mais se procura menos se acha, tudo se revela oco, uma piada sem graça, um enredo sem estofo, uma fumaça de cigarro efêmera que gruda na mente e cria a memória condicionante, queremos de alguma forma buscar no hoje os vestígios de alegria do ontem mas eles são inalcançáveis my dear, o jogo não tem volta, temos que viver com a imperfeição, com a desesperança, procurando coisas para colocar na sacola vazia, sempre atrás de um friozinho na barriga que nos mostre que tudo isso aqui não é só um sonho como todo o passado, viejo Calderon de La Barcaça.
Passei o dia na cama, dont let the Sun go down on me, como os vampiros de Lost Boys (e passado que não vai embora) como amigo somente o maravilhoso romance A Elegância do Ouriço de Muriel Barbery, no brilhante livro a francesa nos conta a estória de duas moradoras de um edifício de luxo de Paris, a primeira tem 54 anos e é a conciérge do prédio, com pouca educação formal porém leitora ávida de filosofia é uma arguta observadora dos tipos humanos que circulam a sua volta, a segunda é uma menina de 12 anos, precocemente desiludida com a vida e planejando cometer suicídio. As trajetórias de ambas se cruzarão nesse grande manifesto contra a burrice e a insensibilidade humana que nos faz pensar se viver vale a pena uma vez que as decepções afloram dia após dia, sejam com os amores, amigos e com o mundo. Talvez viver ainda é válido pela existência de romances tão bons como esse A Elegância do Ouriço.

quarta-feira, 13 de abril de 2011

L Homme qui aimait les femmes

Muito interessante o texto escrito por Heloisa Seixas sobre um homem cascudinho (espécie que não chega a ter a unha do dedo mindinho cumprida e no outro extremo não possui nem idéia do que fabrica a Lâncome) que expressa um amor violento,total,incondicional a todas as mulheres do mundo,questionado sobre o que era a beleza feminina esse mestre e grande frasista da língua definiu de forma tranquila,soberba e fleumática a querela: "Minha amiga, na cama todas as mulheres são lindas."
Tal imenso nariz de cera existe apenas para implementar e inflamar o meu apelo: homens amem as mulheres,esses doces seres que povoam a nossa existência,esses bichos cheirosos que sentem frio nos pés e acreditam em astrologia, essas criaturas que povoam a nossa brutal existência em lirismo,essas pessoas que nos inspiram a poesia,coisas pelas quais matamos e morremos.O amor por uma mulher nunca deve ser particular,o homem apaixonado escreve cartas para o mundo,o homem apaixonado deve apelar para a pura e boa breguice, salve Rei-ginaldo Rossi "Mon Amour,Meu Bem,Ma Femme"(clássico cuja a trabalhadíssima letra se encontra no final do texto)! O homem apaixonado recorre as Loucuras de Amor dos programas das tardes dominicais,o homem apaixonado respira a mulher,cheira a mulher,injeta o objeto de desejo nas veias meio vazias dos braços,uma vez que o sangue já fluiu para outra parte do corpo que frente ao minimo vestigio do objeto amado imediatamente já apresenta o vitalissimo rigor mortis da tesudez da completude.Amem desgraçados,amem as suas femêas como homens,presentes,mimos,sexo avassalador,entrem sem medo no cheque especial da entrega total,sejam Truffaut,não sejam medíocres,aproveitem da mais maravilhosa embriaguez do mundo, barato e brisa que só pode provir dos lábios de nossas musas cotidianas,sejam Rossi,sejam Truffaut,sejam O Homem que Amava as Mulheres.

Mon Amour, Meu Bem, Ma Femme
Reginaldo Rossi
Composição: Cleide

Nesse corpo meigo e tão pequeno
Há uma espécie de veneno
Bem gostoso de provar
Como pode haver tanto desejo
Nos teus olhos, nos teus beijos,
No teu jeito de abraçar

E foi com isso que você me conquistou
Com esse jeito de menina
É esse gosto de mulher
E nada existe em você
Que eu não ame
Sou metade sem você

Mon amour, meu bem, ma femme

segunda-feira, 11 de abril de 2011

Wes Anderson

Consegui ver Rushmore,filme de Wes Anderson raro no Brasil,de 1998 anterior ao maravilhoso "Os Excêntricos Tanembaus".Rushmore é mais uma obra de gênio,é um filme que pertence (como todos os seus outros filmes) a um gênero indefinido e indefinível,não sabemos se é drama ou comédia sem risos ou experimento estético ou melodrama açucarado ou teatro ácido ou um pouco de tudo isso. Seus personagens são mais humanos do que se pode ser humano,são maus e bons,egoístas e altruístas,lúcidos e loucos e apesar do pé sempre atolado na lama esses maravilhosos seres conseguem sempre manter uma aura de dignidade,a cabeça sempre erguida acima de suas trapalhadas,sempre errando e errando de novo,coisa que é comum a todos nós,tudo isso faz com que esses seres de película sejam inesquecíveis. Seus filmes tem uma certa atmosfera de sonho,aqueles deliciosos malucos desfilam num mundo meio lirico povoado por indianos,enfermeiros,escroques,táxistas bandidos em carros caindo aos pedaços,arrogantes que sempre se arrependem,maus que no final fazem seu mea culpa junto aos bons e todos se perdoam e dão aos mãos, Wes Anderson parece ser homem de um só filme,um só sonho que se renova a cada nova empreitada e nos arranca lágrimas de alegria e prazer estético,suas fábulas humanas parecem o tempo todo nos dizer que no final das contas todo mundo tem os seus motivos,todos tem seus egoísmos e mesquinharias mas no fundo ninguém deixa de ter algo de bom e o perdão nos redime e nos faz renascer,Wes Anderson é o mais humano dos cineastas atuais,o mais doce,o mais lúdico,o mais genial,talvez Frank Capra tenha mandado um anjo para abençoar esse menino e fazer com que ele continue nos dando esses filmes fantásticos que não se cansam de dizer que,apesar de tudo,its a wonderful life.

domingo, 10 de abril de 2011

Zé do Caixão é o patrono do Brasil

 A trama de  A Encarnação do Demônioé simples, depois de quarenta anos guardado num presídio o ex-coveiro Josefel Zanatas, Zé do Caixão pros chegados, é posto em liberdade e reinicia  sua busca  pela mulher única que lhe gerará o herdeiro perfeito e na sua jornada passa a ser perseguido por vários desafetos do passado, alguns vivos e outros nem tanto.
No início do filme é muito duro engolir Mojica como o terrível vilão, velhusco e gordote andando pelo centro de São Paulo acompanhado por um hilário e maltrapilho corcunda, Zé do Caixão só se comunica aos berros em pequenos discursos em que come os esses, pintam alguns PMs molambentos com fardas totalmente absurdas, Zé pede um "caneco do seu melhor vinho" num boteco de favela, até ai estamos diante de uma das maiores comédias involuntárias dos últimos tempos, perdendo talvez somente para Falsa Loura de Carlos Reinchenbach, porém em dado momento algo acontece e todo aquele riso começa a ficar meio amarelo,surgem alguns fantasmas de parquinho e aos poucos a barra começa a pesar. Em dado momento a palhaçada inicial se transformou num pesadelo capaz de deixar um avestruz com náuseas, torturas que fariam  que qualquer diretor destes "almost-snuff" do sudeste asiático se borrassem de nojo, medo e angústia. Essa transição do fajuto ao vômito, ao gore, a porrada no saco é uma das coisas mais originais feitas em cinema nas últimas décadas, fico admirado tamanha transgressão ter sido co-patrocinada pelo Cinemark, empresa ultra-careta, imagino as senhoras de classe média, domingão a tarde, baldão de pipocas jumbo no colo vendo coisas como um rato sendo... bom, xáprala.
Emblematicamente e genialmente o climax do filme se dá no Playcenter território no qual Mojica o cineasta, devido às inúmeras políticas artísticas e econômicas esteve relegado nos últimos anos, ao invés de cinema um dos nossos maiores diretores apresentava performances mambembes infanto-juvenis, Zé do Caixão se vinga do Brasil mostrando a todos nós o quanto é engraçado e medonho o nosso mundo, A Encarnação do Demônio é uma metáfora do Brasil, hilário e apavorante e o pior é que continua com nós após sairmos do cinema, grudado na mente, na forma de um pesadelo.

quinta-feira, 7 de abril de 2011

Fome de Amar

Apesar de ter sido feito a mais de vinte anos,a atualidade de Fome de Viver é inegável, a cena de abertura em que o casal de vampiros Miriam (Catherine Deneuve bela da tarde, da noite e da manhã) e John (David Bowie) chegam a uma boate para caçar suas presas parece ter sido rodada no último final de  semana no  Baixo Augusta, a linguagem publicitária (não me agrada particularmente)que Tony Scott utiliza no filme não envelheceu.Fome de Viver é retro-chique.
Muitos disseram que Fome é um filme sobre a implacabilidade do tempo e a mortalidade consequente do inexorável passar das horas,sendo assim uma espécie de continuação de Blade Runner,dirigido pelo irmão do diretor de Fome,Ridley Scott. Runner,realizado um ano antes de "The Hunger", termina com o replicante Roy se questionando sobre quanto tempo ainda teremos e Fome de Viver tenta refletir sobre o fenômeno tempo através da ótica dos relacionamentos.
O filme começa com os vampirões em uma boate moderninha, de lá saem acompanhados de um casal para um suposto "swing" porém o que espera os desavisados namorados é a faca (sim,os vampiros de The Hunger não possuem dentões)e a deglutição de seu sangue por John e Miriam.A sangrenta troca de casais nada mais é do que uma representação de uma tentativa de renovar um relacionamento já antigo,já meio desgastado pelo tempo, muitos casais em declinio recorrem a clubes de swing para tentar dar uma apimentada na relação.Depois vemos John se dirigindo a uma cliníca onde a Dra.Sarah (Susan Sarandon) pesquisa formas de aumentar a duracao da vida humana, descobrimos então que John,por mais sangue que beba,esta envelhecendo rapidamente, a consulta com Sarah é um grito de socorro,John representa o envelhecimento de um caso de amor. Após uma mal-sucedida consulta com a médica John retorna a sua casa, onde uma menina de aproximadamente dez anos espera Miriam para suas aulas de piano.John ataca a garota e bebe seu sangue, era essa menina que tocava para deleite de ambos uma bela música de amor ao piano,o assassínio da menina representa a última tentativa de John salvar o amor perdido,a garotinha representa uma músíca romântica antiga que marcou o inicio do relacionamento de John e Miriam,uma tentativa de retornar a um passado jovem (uma criança) e dourado.Miriam chega, ele confessa a ela seu crime e morre em seus braços,aparentando uns cento e cinquenta anos de idade. Miriam leva o decrépito corpo para o sotão de sua casa e o coloca em um caixão, vemos que existem vários outros caixões no macabro depósito, ex-amantes de Miriam através dos tempos.Mas por que ela sobrevive a todos os seus amores? A metáfora é óbvia,Miriam é mais forte porque consegue literalmente enterrar seu passado, seus amores acabam e ela segue em frente,parte para um novo mundo,enterra seus  mortos.
Miriam recebe então a inesperada visita da Dra.Sarah que intrigada pelo envelhecimento relâmpago de John sai em busca de respostas.Miriam seduz Sarah e a transforma numa vampira,tudo num clima lesbian-chic, ambas se tornam amantes,conforme já dito,Miriam não consegue ficar sem companhia e Sarah é sua nova parceira,porém Sarah rejeita Miriam numa alusão a homofobia.No filme vemos um estranhamento em relação a amar uma vampira,na verdade o que a situação mostra é a rejeição de Sarah,uma mulher até então heterossexual e casada,por um homossexualismo latente que começa a se manifestar,Sarah então tenta se matar buscando por um ponto final em suas pulsões homoeróticas, Miriam,rejeitada pela médica entra em crise,desta vez não há como colocar a jovem e fresca (um amor novo e maravilhoso) num caixão e seguir em frente,nesse momento os corpos em decomposição dos amantes do passado de Miriam saem de seus esquifes e numa cena cruenta, que contrasta com a sutileza geral do filme,levam a vampira para a tumba do esquecimento.
O filme termina com Sarah na sacada de seu apartamento,do sotão ecoam os gritos de Miriam, ou seja, apesar de ter rejeitado Miriam em nome da moralidade a vampira ainda vive na alma de Sarah,um amor inesquecível.Sarah continua vampira (lésbica),o filme termina.
Fome de viver é  um filme visão sobre a necessidade que temos dos outros e como essa necessidade muitas vezes definha e acaba.Porém a maior pergunta do filme fica em aberto, a agrura que Miriam,tão experiente,não conseguiu suportar, o que fazer com um amor que acaba em seu auge? Como esquecer o paraíso?

quarta-feira, 6 de abril de 2011

Cinema pintado com chá, vida desenhada na água..

Pai e Filha de Yasujiro Ozu segue a máxima de Tolstoi que diz que ao falarmos de nossa aldeia estamos falando do mundo. Cinema mais íntimo, delicado, repleto de hiatos não existe, é o oposto da produção e da mente ocidental, dos cortes frenéticos e dos planos transbordando de ação inconsequente, tudo em Ozu é trabalhado com esmero, como em uma cerimônia de chá, um desenho de um ideograma que nos mostra a simplicidade do relacionamento entre uma filha e seu velho pai, muitas vezes cheio de momentos bruscos, e o rompimento dessa vida em comum com o casamento da moça. Viver, viver no presente é mensagem xintô do mestre Ozu, aproveite os frutos da árvore da vida hoje, amanhã a cerejeira já os expeliu e ficamos apenas com as folhas, a mensagem serve tanto para um mineiro do Casaquistão quanto para um ourives de Pirassununga.
Aqueles que ainda tiverem condições de se entregar a um programa como Pai e Filha não devem perder tempo, as cerejas amadurecem rápido demais. 

A Estrada

A Estrada do Trovão é faminta, ela consumiu todos os verdes anos e agora só sobrou um certo limbo, não somos mais jovens e nem somos velhos, somos medíocres, vivemos num conforto de merda, vivemos embaixo de uma marquise com medo da chuva, com medo dos trovões daquela estrada que comia tudo, que fodia os nossos cabaços e nos realizava nos altares do excesso do velho Wilde, agora é só o pão com manteiga dos escritórios, a dieta da prudência que nos apodrece devagar como os quadros protegidos dos museus, somos só punheta cujo enredo é a memória e a saudade da Estrada do Trovão que nunca adimitiu o meio somente o fim, o extremo, o porre, o vômito e o fígado, a morte vital e não a vida mortal, Thunder Road, será que um dia poderemos voltar a trilhar seu caminho sem fim?

terça-feira, 5 de abril de 2011

Breve comentário sobre a vida em tempos de guerra.

     Eu queria tanto levar a Ana Maria Braga  a  sério. Queria achar que a “galerinha” do  Big  Brother  Brasil  é   gente  como  a gente   e só quer mostrar   o valor  desse povo bronzeado ,um  valor sem  epistemologia,sem  escrúpulo, uma qualidade  onanística nas  páginas  das revistas de masturbação.  
      Gostaria muito de achar o Luciano Huck e a Angélica pessoas legais que contribuem para a nossa sociedade distribuindo prêmios e se abstendo de vida sexual. O “Casal 20  Daqui”.
Gostaria de  achar  o Zeca  Pagodinho    um  herói  marginal  que    pensa em   cerveja.  Ele e os pagodeiros  que  curtem muito  o “samba de raiz” e  querem  resgatar   o   passado  dos  morros.
      Queria ter simpatia  pelo  Airton  Senna,pelo Guga, pelo Padre  Marcelo, pelo Chico  Xavier além de    Caetano   e  Betânia  com seus blogs milionários  e suas preocupações com  os Filhos  de Gandhi.
   A Maria Rita e a Maria  Gadú seriam Deusas da MPB.O  Pedro Bial,  que jornalista  legal que   ele é  contribuindo  para  a moçada  do BBB.A  Ana  Maria Braga (again)conversando com um papagaio  de  borracha,lirismo  puro. E o Obama? Salvação do mundo pela negritude. 
    Lembrei-me agora,  last but  not  least, da Revista Veja tão iconoclasta com  o  seu    Diogo Mainardi, um   Paulo  Francis de  chocadeira, igualzinho ao Zico,  distribuindo  informação e  inconformismo   para  a  Classe  Média.
     Mas eu não acho nada disso, acho que somos apenas números, se vale o  quanto se  produz,não   importa o que  ou por quais meios.Ninguém hoje em dia liga  para a coerência, decência,dignidade. Hoje vale mostrar  o cú  por patacas,hoje se vira  viado   ou sapatão  por  obrigação social  e não   por gostar   de  pau  ou  buceta. Hoje  vale  a pena  participar de   um  joguinho sujo    regado a   uísque, peidos  e vomito  de  empresários  e politicos,hoje  vale achar  que a dupla Fernando  e   Sorocaba  esta salvando vidas em   shows  beneficentes   enquanto  se arranca o couro  dos   empregados  e   subordinados .É  nisso que vivemos.

segunda-feira, 4 de abril de 2011

Kubrick-O Grande Golpe


O Grande Golpe, um dos primeiros filmes de Stanley Kubrick, é uma das grandes provas da lei do velho guerreiro: Nada se cria tudo se copia.
O filme é genial, fala sobre uma gangue meio mambembe que pretende assaltar o jockey em dia de grande prêmio, o que salta aos olhos de todo cinéfilo é a montagem originalíssima que viria a ser copiada inúmeras vezes nas últimas décadas, a ação final é mostrada pelos pontos de vista dos diferentes personagens até chegar a seu climax, recurso pelo qual queridinhos como Tarantino e principalmente Guy Ritchie vivem sendo chamados de "gênio" hoje em dia. Notem o personagem Maurice e como pipocam similares seus no cinema atualmente , um pacato professor de xadrez que profere frases extremamente inteligentes que se revela um brutal "bar fighter" por grana, idéia pós-moderna?
O Grande Golpe nos demonstra claramente a diferença entre unanimidade e clássico, toda unanimidade é burra pois elas são efêmeras, os clássicos nunca morrem. Guy Ritchie e seus canos fumegantes, snatches e rocknrollas (coming soon) são unanimidades.Kubrick é clássico

Realidade


Ataco de fenomenólogo,vou filosofar sobre o mundo sensível e pretendo ser metafísico,ser existencial,ser materialista,ser contraditório,quero que não exista método na minha filosofia,me ajude São Nietzsche!Me empreste sua lucidez maluca ó grande Louco de Turim! Me ensina a viver como super-homem, me auxilie,quero ser o Anti-Cristo, quero as palavras faladas pelo velho Zaratustra! Homem,quem és tú? Vida me decifra ou te devoro!Miséria nossa,leitores de Caras me ensinem a carregar esse fardo que se estende do despertar ao deitar, só os sonhos nos livram dos grilhões,mais uma vez Friedrich te invoco,você que enlouqueceu devido a tanta sanidade,que sifilis que nada! O mundo real é real ou é delirio? Os amores existem? Os intímos irmãos que nos abandonam a nossa própria sorte existem? O ar existe? Por que estou condenado a este tempo?Por que sou eu e não outro?Por que vivo aqui e não numa cidade grega do período clássico?Por que sou isso e não um monje medieval? Um corsário praticando pilhagens a serviço de nossa Majestade?Insuportável realidade que destrói,que pilha,vida a qual obedecemos de olhos fechados? Enfrentar isso,de que jeito? Obedecer a quem? A Deus? Mas como obedecer a um criador invisível uma vez que não acredito nem mesmo na minha própria existência?Heidegger,Sarte,sejam mais claros,Heidegger perfeito porém nazista,Sartre perfeito porém stalinista, culpados pelo erro,senhores de suas vidas,escravos das ideologias fomentadas por mentes inferiores,escravos sem querer,viva Camus! Morreu existencial e jovem proibido assim de se contradizer,coerência senhora das mentes medíocres! Fujo então para A Sombra de Heidegger de Jose Pablo Feinmann e descubro,a última esperança é a arte,só ela pode nos dar uma segunda chance de realidade,só ela nos tira do mundo por efemeros instantes,belíssimo romance de filosofia,filosofia de romance.
Amanhã vai chover em São Paulo.

domingo, 3 de abril de 2011

Roth.

Não é exagero afirmar que O Animal Agonizante (Cia.das Letras)de Philip Roth é um dos melhores romances de todos os tempos,com cerca de cento e vinte páginas poderia ser chamado de novela porém a grandeza do livro não pode ser medida pelo seu volume,leiam imediatamente e me darão razão.
David Kapesh é um professor sessentão, aposentado que apresenta um pouco visto programa sobre arte na TV além de ministrar cursos esporádicos,ao final de cada curso Kapesh organiza uma festa para os alunos em seu apartamento e obrigatoriamente leva uma delas para cama,até conhecer Consuelo uma descendente de cubanos por quem se apaixona perdidamente e numa entrevista com alguém desconhecido expõe sua amarga visão sobre a vida e a morte.O romance é tão profundo que muitas vezes parece que estamos diante de algo da grandeza de Sheakespeare, imaginem um Complexo de Portnoy (o primeiro grande livro de Roth,também narrado em forma de confissão) trinta anos mais maduro e você terá uma vaga idéia do que é O Animal Agonizante.Roth,na breve confisão do pervertido professor trata dos mais importantes aspectos da vida humana tais como paternidade,amizade,politica (a situação cubana) e sobretudo sobre o amor e a morte,é inesquecível uma das frases do livro que diz que, ao contrário do que é popularmente dito,o amor não completa ninguém,somos completos antes do amor e depois dele nada mais do que fragmentos de algo inexplicável,o amor é a única obsessão a qual buscamos por vontade própria, sim uma visão extremamente amarga,mas ao final Roth nos da uma piscadela,talvez as coisas não sejam tão ruins assim e somente Eros pode,pelo menos,nos aliviar da carga de Tânatos.

Reflexões com Mr. Bob Dylan

Nada mais frutífero do ponto de vista filosófico do que o porre solitário. Nada mais lindo do que se embebedar sozinho,apenas observando com atenção,olhando com carinho os outros e suas ridículas discrepâncias e principalmente descobrindo os nossos próprios podres enterrados no peito como sapos de macumba.
Pois bem, estava lá no balcão transcendental,local de tantas galhofas,tantos risos,tantas glórias e derrotas,tanta fraternidade íntima,estava lá sozinho,meus únicos companheiros eram uma dupla de senhores escoceses chamados Justerine & Brooks afogados em cúbicos icebergs, ouvi Bob Dylan cantando espectralmente,profeticamente,como se dirigindo particularmente a minha profunda solidão:
" How does it feel
How does it feel
To be on your own
With no direction home
Like a complete unknown
Like a rolling stone?"
Passei então a fazer um exame minucioso de minha vida,desde a minha tenra infância escolar onde comecei a sentir na pele a frase do Huis-Clos sartreano sobre a identidade do inferno e só surgia a pergunta "Qual a minha importância no grande esquema das coisas?" e pude,num lampejo de lucidez que só pode ser alcançado após a comunhão alcoólica responder,nenhuma, é essa nossa importância,nenhuma,nada temos,só ilusões.Somos como drogados em busca de mais uma pedra de crack,precisamos de ilusões para sairmos de nossas carcaças que envelhecem,corpos em decadência jogados sem misericórdia num mundo que não foi escolhido,num mundo pronto,num mundo com seus deuses e pecadores,num mundo com suas verdades e mentiras.Somos todos alcólatras em busca de mais uma dose,ela pode ser uma promoção para os carreiristas,um Ipad para os idiotas tecnológicos,um livro para um pretenso intelectual,uma viagem para aqueles que não se contentam com o mesmo chão sob os pés,um ato altruísta para os que possuem complexo de Madre Teresa,um estudo sério para um CDF,um Audi A8 para um ostentador,um amor para um sentimentalóide patético.Será possível viver sem ilusões? Sem drogas?Sem artificíos? Infelizmente não,nossa maldição é essa,buscar sempre e sempre não conseguir.Perseguimos um animal invisível,tentamos agarrá-lo pelo rabo até que chega a morte e põe um ponto final em tudo, como se toda essa briga se tratasse de uma brincadeira,de uma piada sem sentido.
Bob Dylan volta para me dar mais um toque,sim,o grande Jokerman é a nossa vida.

You must remember this...

Casablanca recebeu o prêmio de melhor roteiro cinematográfico de todos os tempos pelo Writers Guild of America, na verdade é um roteiro adaptado de uma peça chamada "Everybody Comes to Rickys" de Murray Burnett e Joan Alison. O filme mostra a estória de Rick(Bogart) um cinico proprietário de bar que reencontra um velho amor,o cenário é Casablanca,governada pelos nazistas na efervescência da Segunda Guerra. O que faz dessa estória,tão comum, a melhor de todos os tempos,na frente de obras como Cidadão Kane e Dr.Fantástico? Simples,é um conto de amor, é uma história sobre o magnetismo invisível,sobre os bálsamos etéreos que unem duas almas,sobre o destino que parece conspirar para que mesmo os encontros amorosos mais desastrados perdurem eternamente,destino esse que insiste em manter uma corrente imortal,um vínculo atemporal entre dois seres,é sobretudo um filme sobre a música do amor que ouvimos quando estamos apaixonados,imersos na sensação bittersweet da necessidade do outro, o amor é uma espécie de altruísmo,o amor é um momento de transcendência em que o nosso "eu" ja não é mais suficiente,temos que transcender no outro,viramos uma simbiose ambulante de sacrificio,dor e alegria,nos tornamos embriagados de vida e quando tudo isso se vai só temos o luto.O final de Casablanca é de conhecimento público,Rick abre mão de Ilsa num gesto do mais puro altruísmo,deixando sua paixão livre Rick faz com que o amor entre os dois se torne imortal,não existe mais julgo ali,Ilsa esta livre,porém eternamente ligada a aquele homem cinico,a aquele homem o qual conseguiu penetrar o coração,woman needs man and man must have his mate,that no one can deny

sábado, 2 de abril de 2011

O Poder do Mito

oseph Campbell é um exemplo único de intelectual,acadêmico e pop-star. Sua simpatia esportiva destoava totalmente dos estereótipos de scholars, Campbell lembra um tira novaiorquino de ascendência irlandesa, um bom tira,com o rosto sempre iluminado por um sorriso de bebe.É essa figura que resplandece na série "O Poder do Mito" lançada pelo selo da TV Cultura. Trata-se de uma longa entrevista concedida pouco antes da morte de Campbell ao competente jornalista Bill Moyers,nela o acadêmico esclarece o que são os mitos,qual o papel por eles desempenhados na história da humanidade e na nossa vida espiritual,qual é a ajuda proporcionada por essas figuras na condução de nossas existências,tudo é explicado de forma cristalina e até o mais materialista dos espectadores poderá entender a obra desse incomparável e insubstituível mitólogo, não é uma discussão sobre fanatismo e carolice,é uma conversa sobre o entendimento,sobre o inconsciente coletivo e suas implicações nas ações humanas.suas implicações na construção da cultura e na construção da arte pois segundo Joseph Campbell são os artistas os grandes comunicadores,a ponte de ligação entre o mundo divino inconsciente e a vida cotidiana.Vale por mil sessões de psicanálise.

Um estranho no ninho

Jack Nicholson,por ele já basta,mas tem muito mais.Muito mesmo. Revi ontem o filme O Estranho no Ninho (One Flew Over the Cuckoos Nest) de Milos Forman por acaso,o DVD veio por engano na caixa de outro filme e para mim aquilo foi o céu. Contracultura questionadora de nossas vidas medíocres, chega num manicômio Jack,malandrão gente-boa que cai ali se fingindo de louco para fugir do trabalho braçal pesado de uma colonia penal, gênio boêmio total passa a questionar os motivos existentes no tratamento dispensado aos internos,violência institucional demente e castradora que ao invés de melhorar piora a cabeça dos caboclos, Jack então incomoda a diretoria do cafofo e acaba se dando mal.Jesus Cristo do microcosmo dos desajustados,messias da mudança que faz acreditar na montanha interna nossa, senhor do inconformismo que nos falta.Iconoclastia pura para a salvação dos escravos, nós escravos de ocupações imbecis sem questionamento, nós que não acreditamos em nossas montanhas.
Melhor a cada ano,melhor a cada dia.

sexta-feira, 1 de abril de 2011

Nunca houve mulher como Barbarella

Jane como você era gostosa, meu Deus e Deus criou a mulher velho Roger Vadim e você catou a Jane e a transformou em Barbarella, e você pegou a filha do Sr.Henry Fonda e transformou em Senhora Vadim, francês safado que só pensava em triângulo, do time do Truffaut e não do Godard.
Barbarella é o filme mais erótico e tesudo dos anos sessenta, Jane Fonda com aquelas coxas grossas e vestida naqueles nylons e latex fetiches, tão coberta e tão pelada ao mesmo tempo, louca para dar como mulher e gozar como cadela no cio e não como manequim futurista (cuidado mulheres anoréxicas que dispensam o arroz com feijão, jájá a bacurinha seca e a previsão se concretiza!), Barbarella que leva a máquina que matava as mulheres de tesão a tilt, Barbarella que faz anjos desiludidos voltarem a voar! Ahhh nunca mais existirão mulheres como tú, ó Barbarella! E que saudade de ti ó saudável e irresponsável sacana vadio Vadim!